Alexandre Caroli Rocha, formado em Letras pela UNICAMP, defendeu em 2001, junto ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária, do Instituto de Estudos da Linguagem (UNICAMP), sob orientação do Prof. Dr. Haquira Osakabe, dissertação de mestrado intitulada “A Poesia Transcendente de Parnaso de Além Túmulo”, tomando como objeto de estudo o conhecido livro psicografado por Francisco Cândido Xavier, composto por 259 poemas atribuídos a 56 poetas brasileiros e portugueses.

No estudo o autor procura levantar questões como a autoria, o pastiche, o estilo, os limites do literário. Parte do histórico das edições de Parnaso; dos poetas apresentados como os autores espirituais; dos conteúdos da antologia e das repercussões de Parnaso no meio espírita e na imprensa em geral. A partir daí, desenvolve cinco estudos, analisando três poetas portugueses, João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro, e dois brasileiros, Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos, procurando conhecer que pontos em comum existem entre poemas de Parnaso e a obra de autores a quem são atribuídos. Segundo Alexandre, “os resultados desses cotejos sugerem que os poemas de Parnaso não seriam o produto de uma simples imitação literária”.

O autor procura, ainda, analisar a configuração autoral e a intenção probatória da antologia; alguns pressupostos do entendimento espírita de arte; a inspiração literária e o espiritismo; Chico Xavier e a psicografia e, por fim, os propósitos persuasivos da literatura espírita.

Em sua dissertação se encontra uma vasta revisão sobre a produção mediúnica, a interferência de espíritos e médiuns no texto, a similitude do estilo literário ao lado de uma intenção retórica dos espíritos e muitas outras características próprias ao texto mediúnico de médiuns conhecidos como o próprio Chico, Yvonne Pereira e Divaldo Franco. Segundo o site da UNICAMP: “Uma dissertação que merece ser lida, porque traz mais uma contribuição lúcida a uma literatura geralmente esquecida pela Universidade Brasileira e paradoxalmente muito lida pelo público brasileiro de espíritas e simpatizantes”.

No excelente debate promovido pelo CPDoc, pôde-se constatar como procura cercar o livro sob diferentes ângulos e entender esse objeto que é diferente de outros, na medida em que a poesia de Parnaso não é igual a poesia estudada na faculdade.

Parsano é emblemático na história do espiritismo no Brasil. Publicado em 1932, causou enorme estranhamento e desconforto na imprensa laica e no ambiente literário não espírita, num contexto em que a poesia era o gênero literário mais valorizado. Escritores poetas tinham enorme poder simbólico e Chico Xavier não era um homem de letras, um erudito, que tivesse acesso a esse universo cultural. A novidade do livro é a tentativa de reproduzir vozes poéticas conhecidas, de autores em língua portuguesa, dando a impressão de que quem fala é o autor morto.

Chama atenção, ainda, para aspectos históricos dignos de nota, como a ampliação e as sucessivas revisões empreendidas até a 6ª e definitiva edição; as repercussões que causou (o que se comentou); e o conteúdo do livro, cujo crescimento seguiu um planejamento que procurou dar conta dos temas que estão contidos no Livro dos Espíritos, uma poetização da obra fundamental de Allan Kardec.

Segundo Alexandre, seu estudo não teve o escopo de provar que o autor era um morto, mas analisar a relação indireta entre autor e texto. Destacou, entretanto, que os poemas atribuídos a Guerra Junqueiro foram elaborados, no mínimo, por um “especialista com grande domínio deste autor”.

Questionado sobre que mudanças podem ser avaliadas no estilo e conteúdo dos autores contidos em Parnaso nos diferentes estágios da produção literária, Alexandre fez questão de destacar a interferência do médium (que não é um lápis) e que o processo da morte parece interferir e dar novos significados para os autores espirituais, o que deve ser considerado em qualquer análise da literatura mediúnica. Avalia que para entender o livro espírita é preciso estudar o espaço cultural do qual o livro faz parte, na medida em que o espiritismo se apropria da literatura laica, mas constitui um sistema literário próprio.

A dissertação está disponível para acesso na íntegra no seguinte endereço: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000236698.

Ademar Arthur Chioro dos Reis

Ademar Arthur Chioro dos Reis
Autor: Ademar Arthur Chioro dos Reis
Médico sanitarista e professor universitário. Membro do CPDoc e do Centro Espírita Allan Kardec (Santos-SP)

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