O JARDIM DA INFÂNCIA DOS ESPÍRITOS ADULTOS - Jornal Abertura 2018

WGarcia

Recife, PE


A percepção do significado do conhecimento está na razão direta da maturidade do espírito. Daí porque o sentimento de justiça, o bem e o belo colocarem desafios permanentes ao ser humano do nosso tempo.


A maturidade é considerada o momento supremo em que o ser reúne todas as condições físicas e psíquicas para encarar a vida de um ponto de vista livre e objetivo. Talvez, Herculano Pires tenha dado a dica sobre esse estado de espírito quando faz a crítica da imaturidade: diz, mais ou menos assim: vivemos que nem galinhas, preocupados com as migalhas. Ou seja, o ser comum se incomoda com tudo e com nada, tornando-se um policial das miudezas, uma sentinela de ratos, um paparazzo de cenas grotescas ou um reprodutor incansável dos minutos de fama. Assim, tem muito poucas chances de perceber a essência da vida, que desfila como sombra nas paredes descoloridas do não significado.

Serão as migalhas de Herculano o sinal da imaturidade doutrinária?

É de se pensar, afinal, há mais gente espírita preocupada com o elixir da felicidade do que com os conflitos naturais do conhecimento, únicos capazes de desconstruir a ilusão das migalhas e ferir de morte o tempo dedicado a elas. Temos mais problemas fundamentais a absorver do que necessidade de coisas miúdas, mas estas parecem nos alcançar com mais força e nos dominar as preocupações.

Se a Terra já não é mais um mundo primitivo no sentido civilizatório, ainda assim continua povoado de seres imediatistas, ciscando em termos materiais e deixando vazar a violência potencialmente ainda existente em seus arquivos mentais, tudo por conta de irrelevantes pepitas amarelas de tamanho insignificante, para cuja valorização precisamos de milhares delas e anos de perda de importância enquanto seres humanos.

O espiritismo encontra-se hoje em uma encruzilhada: trata-se de um movimento majoritariamente retido nas migalhas de religiosismo doutrinariamente ultrapassado, preso no sonho milenar do paraíso e submetido à ilusão do suposto poder do nome de Jesus, algo que, linguisticamente, até, não guarda relação com a realidade do homem de Nazaré, pois a palavra que utilizamos para nomear as coisas são totalmente independentes dessas mesmas coisas. Quando se tornam mantras (como ocorre atualmente entre os integrantes da massa espírita em relação ao nome Jesus), afastam-se ainda mais do foco que lhes deram origem e alojam-se tão só nas psiques iludidas dos seus utilizadores.

Na outra ponta da doutrina espírita está o conhecimento, cuja apropriação não pode ser relacionada às migalhas da informação fragmentada que alimentam a imaturidade. Mas esta condição se perde em meio ao brilho do ouro que gera crenças e ilusórias imagens paradisíacas, substitutas na contemporaneidade daquelas imprecisas miragens de oásis no deserto da ignorância. A imaturidade doutrinária prepara pedintes e não lideranças verdadeiras, independentes, livres, capazes de discernir entre o falso brilho do ouro e o verdadeiro bem, assim como dispostas a defender a verdade das insinuantes ordas de mentiras dispostas a manter o atraso do saber. Os pedintes se alegram com as migalhas, sem perceber que delas precisarão diuturnamente e apenas para manterem a vida medíocre, enquanto que as lideranças conscientes desprezam as migalhas para se dedicarem à construção do mundo superior onde os homens hão de predominar sustentados pelo conhecimento libertador.

Justo, pois, concluir que vivemos uma espécie de jardim da infância do espírito adulto, onde a essência espiritual já não disputa espaço nas cavernas por inevitável progresso. Porém, majoritariamente imaturo, não consegue perceber que há uma razão nobre que impulsiona à sublimidade da vida, justificando e dispensando a preocupação com as migalhas.

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O CPDOC Iniciou suas atividades em 1988, fruto do sonho de jovens espíritas interessados na inserção da crítica coletiva como prática estimuladora ao aperfeiçoamento dos trabalhos.

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