VAMOS FALAR DE GÊNERO? - Jornal Abertura 2019

Precisamos de algumas definições para que possamos nos entender.

O que é sexo? É o genital que vemos ao nascer.

É geneticamente ter os cromossomos XX e ser mulher ou XY e ser homem, macho ou fêmea (em sistemas binários). Será que é só isto?

Biologicamente é uma combinação de características cromossômicas, órgãos sexuais externos e internos, hormonais e suas características sexuais secundárias (mamas, distribuição de pelos, massa muscular, distribuição de gordura etc.).

  Atenção – já temos uma dificuldade aqui, pois não podemos esquecer das alterações genéticas e aí encontramos os intersexos, isto é, por alteração genética, os órgãos sexuais podem parecer de um sexo, mas cromossomicamente ser de outro. Temos, por exemplo, a síndrome -  XXY (Klinefelter) onde aparece pênis muito pequeno, mamas aumentadas e outros sinais que não é possível só pelo olhar dos genitais classificar o sexo da pessoa.

Em outras síndromes a criança poderá ter genitália ambígua, anomalias da diferenciação sexual etc.

Antigamente era chamado de hermafrodita. No intersexo há uma combinação de características tanto cromossômicas como hormonais caracterizando corporalmente esta pessoa.

Por isto ao falarmos de sexo precisamos lembrar que são: feminino, masculino e intersexo.

 

Outra definição muito importante é de Orientação Sexual – isto é:  como a pessoa orienta sua atração bio, psico, sociocultural e espiritual. Ela pode ser homossexual, heterossexual, bissexual, pansexual, assexual. A pessoa é assim. Não é doença, não é escolha, não é falta de caráter, não é “ sem-vergonhice” e muitas outras palavras denegrindo e aumentando o preconceito e a ignorância. 

 

 

E identidade de gênero? É como a pessoa se identifica, parece óbvio, mas é como o ser se vê, como ele se percebe, como ele se reconhece. E aí pode ser feminina, masculina, ambas, nenhuma nem outra. Novamente alerto para termos um cuidado com nossa cultura, nossa sociedade, pois não é o outro que determina a identidade de gênero, é o próprio ser que como o nome diz se identifica, não é doença, é o ser humano em sua plenitude, com todo o seu direito de ser pleno.

Agora posso definir Gênero:  se trata de uma convenção social para o que determinada cultura compreende como o que é masculino ou feminino.

 

 

E aí temos um grande problema, pois como é uma convenção social há muita discriminação, ignorância e sofrimentos profundos.

Ser diferente no dia a dia é muito difícil principalmente porque esta identidade de gênero ocorre na maioria das vezes na infância. É muito importante que os pais, familiares, professores e amigos desta criança/adolescente estejam atentos e possam ajudá-la a superar dificuldades e preconceitos.

Como diz a música “ Ser diferente é normal”!

 

No Espiritismo

No livro dos Espíritos item VI – Sexo dos espíritos, Kardec comenta – “ Os espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens”

Entendo que o ser humano deva ser sempre pensado como um ser bio psíquico sócio cultural e espiritual; toda vez que olhamos/valorizamos só um lado perdemos a oportunidade de visualizá-lo como um todo. E como o todo é maior do que a soma das partes temos que exercitar esta nova visualização.

Pela Declaração Universal dos Direitos Humanos -   Artigo 1°: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Como espiritas livres pensadores, humanistas, progressistas, temos todos os subsídios para colocar em prática a declaração universal dos direitos humanos terminando com o preconceito, sendo livres e iguais em dignidade e em direitos.

 

Alcione Moreno é médica ginecologista e obstetra, terapeuta e educadora sexual e reside em São Paulo

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O CPDOC Iniciou suas atividades em 1988, fruto do sonho de jovens espíritas interessados na inserção da crítica coletiva como prática estimuladora ao aperfeiçoamento dos trabalhos.

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