Swedenborg e Kardec

Arthur Conan Doyle, no livro História do Espiritismo, afirma que Emmanuel Swedenborg foi um dos homens mais cultos e inteligentes de sua época e que era dotado de mediunidade polimorfa (multiforme). Nascido em Estocolmo (1688-1772), foi um grande cientista e teólogo. No auge da carreira cientifica, abandonou tudo para se dedicar à divulgação do espiritualismo. Dizia que Deus o havia encarregado dessa missão. Recebeu essa revelação divina em abril de 1744, em Londres. “Na mesma noite - diz ele - o mundo dos espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e espíritos.” Nessa primeira visão fala de “...uma espécie de vapor que se exalava dos poros de meu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caía no chão, sobre o tapete.”

Essa emanação (ectoplasma) era uma importante característica física a ser pesquisada, mas isto não lhe interessou. O que lhe ficou marcado foi a revelação divina; então passou a agir profeticamente. O Professor José Herculano Pires no livro O Espírito e o Tempo, diz: “Diante dos fenômenos, ... não se coloca em posição de crítica e observação, mas de passiva aceitação. Considera-se eleito para uma missão espiritual, senhor de uma revelação pessoal, e portanto incumbido, como Moisés ou Maomé, de ensinar enfática e dogmaticamente o que lhe era revelado.”

Deslumbrado pelos fenômenos psíquicos de que era portador dizia-se o único, ajudado pelos anjos, a transmitir a mensagem direta de Deus à humanidade. Crê-se infalível em suas predições; sua teologia é complexa e ininteligível.

Escreveu obras espiritualistas, como: “O Céu e o Inferno”; “A Nova Jerusalém”; “Arcana Celestia” etc., a partir das quais seus adeptos fundaram a Nova Igreja, chamada “Nova Jerusalém”.

Assim como Swedenborg, outros médiuns surgiram em todas as épocas da humanidade, deixando importante contribuição para o advento das teorias espiritualistas.

Mas, muitos deles, também instigaram ideias místicas, cultos secretos, cerimônias religiosas repletas de rituais dogmáticos e outras práticas que levam à crença do sobrenatural.

Pena que muitos pesquisadores espiritualistas enveredaram por esse campo do fantástico e do maravilhoso; tinham bagagem suficiente para agirem e se posicionarem de forma mais racional e compromissada com as realidades da vida e das leis naturais.

Nesse aspecto nota-se a grande diferença do pesquisador sério e dotado de bom senso que foi Allan Kardec. Diante de fenômenos que, à primeira vista, pareciam apenas magnéticos, soube discernir ali a manifestação do mundo extrafísico. E, com o rigor científico que sempre dedicou em seus trabalhos, compreendeu “... logo à primeira vista, a importância da pesquisa que iria fazer. Vislumbrei naqueles fenômenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, tão confuso e tão controvertido, solução que eu havia buscado toda a minha vida. Era, em suma, uma revolução total nas ideias e nas crenças existentes. Era preciso, pois, agir com circunspeção, não levianamente. Ser positivo, não idealista, para não me deixar levar por ilusões.” (Obras Póstumas).

Nada de místico, nada de mágico, nada de sobrenatural na sua interpretação diante dos novos acontecimentos. O caráter desapaixonado do Prof. Rivail, a seriedade de propósitos, o bom senso e o respeito aliados à sutileza de antever algo muito além da curiosidade e do divertimento leviano, o levaram a essa pesquisa em nível científico que resultou na concepção do Espiritismo.

Como diz Jon Aizpúrua no livro Os Fundamentos do Espiritismo: ...”Caberia a um pedagogo francês, um homem culto e ponderado, aberto porém prudente, o Professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail, o mérito de colocar as coisas em seu lugar, mediante o estudo sistemático dos fenômenos e, ao explicar suas causas, deduzir daí todo um sistema filosófico de vastíssimos horizontes e profundas consequências morais e sociais, do qual seria seu fundador, sistematizador e codificador: o Espiritismo”.

Autor: Delma Crotti
é aposentada, em Santos/SP.

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