Chico Xavier – um herói brasileiro no universo da edição popular

Coluna do CPDoc - Jornal Opinião - América Espírita – Ano XV - Nº 159 - dezembro 2008

Este livro, que acaba de ser lançado pela editora Annablume, de São Paulo, é resultado da tese de doutorado de Magali Oliveira Fernandes, defendida no Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, sob orientação da professora Jerusa Pires Ferreira. Nele constam algumas documentações bastante interessantes para se saber um pouco mais a respeito do médium mineiro Chico Xavier.

No primeiro capítulo do livro, a autora lida com o conjunto de notícias que envolviam a figura em pauta e todo o seu trabalho espírita – de produção de mensagens psicográficas e do atendimento ao grande público que o visitava regularmente em Minas Gerais, em Pedro Leopoldo e, depois de 1959, em Uberaba. Aliás, um conjunto de notícias divulgado na imprensa espírita, bem como na imprensa em geral. Com base nesse material, pôde-se ter uma noção de como o papel do médium Chico Xavier foi sendo construído perante a opinião pública, isto é, ele, de homem questionado por seus trabalhos espíritas no início de sua carreira, passou, aos poucos, a ser respeitado como cidadão brasileiro, para além dos adeptos do kardecismo.

No segundo capítulo, a autora trabalha uma série de publicações a respeito da vida de Chico Xavier. Todas contando as dificuldades que Chico enfrentara nos períodos de sua infância, da adolescência e, ainda, quando já era adulto, até seu encontro com as obras da doutrina de Allan Kardec, que chegam a libertá-lo de muitas situações difíceis em relação à sua sensibilidade mediúnica. Publicações essas que foram tratadas, nesse estudo, como versões editorias, por sua vez, um tipo de repertório da edição brasileira que ia ao encontro de uma série de narrativas de histórias de encantamento. Uma espécie de saga do herói – do dano (quando ele perde sua mãe aos cinco anos de idade) ao triunfo (quando passa a trabalhar como médium e começa a ser reconhecido como figura especial, pelo público brasileiro, e não só de espíritas).

No terceiro e último capítulo do livro, é revelador o documento que é apresentado: um caderno artesanal que teria pertencido a Chico Xavier, contendo uma composição singular de recortes e colagens, provavelmente retirados de livros e revistas e de outros materiais impressos. E sua singularidade pode ser observada tanto do sentido da escolha das imagens e dos textos por parte de Chico, como pela forma como tudo foi sendo disposto no papel. Ou seja, editado artesanalmente sobre um caderno de contabilidade já usado com data de 1924. Um caderno expressivo e significativo, podendo servir com uma referência para se pensar a psicografia desde seus bastidores, trazendo ao mesmo tempo no seu exercício de produção a experiência da pessoa Chico diante do que havia ou não à sua disposição.

Creio que seja esse livro algo relevante do ponto de vista da proposição de análise sobre os materiais apresentados, buscando encontrar a pessoa e o personagem Chico Xavier – do que ele realizou ao longo de sua vida e do que foi sendo realizado em torno dele a partir de determinado momento, pelos meios de comunicação, pelos livros e folhetos biográficos, enfim por todo o conjunto de sua obra no universo da edição popular, num dos segmentos mais expressivos de nossa sociedade.

Alcione Moreno

Alcione Moreno
Autor: Alcione Moreno
Médica GO - Terapeuta Sexual, Secretária do CPDoc.

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